Preconizador do conceito espacial no seio da História, Fernand Braudel defendia que a História se define não só pela relação entre diversos espaços como pelas características dos mesmos, que variam consoante os homens que os estruturam e neles vivem. Conceito, portanto, orgânico, verificamos que se opõe, de certa forma e na maioria do mundo habitado do século XXI, à ideia de longa duração ou tempo longo. As necessidades que se sucedem a um ritmo vertiginoso provocam outras tantas alterações espaciais, frequentemente avassaladoras e sem nexo nem lógica. Contudo, aplica-se a noção de espaço a todas as épocas de vivência humana, em que os acontecimentos nem sempre se sucederam com o ritmo que hoje se verifica. Braudel defende, por conseguinte, um pacto que engendre uma solução combinada entre o passado e o futuro.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
O ESPAÇO E O TEMPO HISTÓRICO
A História é uma ciência do Homem e para o Homem, tratando o seu percurso e realizações desde a Pré-História até ao dia de ontem. Estuda o Homem no tempo, portanto, mas também no espaço, que é assim o espaço histórico. Este pode-se definir como a porção do planeta onde se desenvolvem as actividades do homem no seu quotidiano. Inserido no conjunto das suas actividades ao longo de um período de tempo maior ou menor, ganha a dimensão histórica, não apenas de forma isolada mas também em relação com outras áreas. Portugal é um espaço histórico, porque definido por um povo que ao longo da história se definiu enquanto tal e que concebeu o conjunto dos territórios onde habitam as suas comunidades de uma forma relacionada e uniforme, onde o tempo histórico se desenvolve de forma homogénea e de acordo com os padrões de civilização e desenvolvimento que o mesmo povo consolidou nesse espaço.
Estreitamente ligado ao conceito de espaço histórico encontram-se os componentes políticos que caracterizaram e caracterizam ainda as diferentes sociedades. Remonta este conceito organizacional de opostos, traduzido nas expressões comummente utilizadas de esquerda(conotada com a liberdade enraizada naquilo que era mais profundo e intrínseco ao Homem) edireita (de cariz mais racionalista e tendente à autocracia ou centralização), presumivelmente à Revolução Francesa, uma vez que tal era a disposição dos grupos na Assembleia. Por outro lado, deparamos com o denominado espaço vital, que deriva do germânico lebensraum e designa uma noção espacial (geográfica e ambiental) flexível e estreitamente interligada à cultura de um país e/ou povo. Esta noção necessita de um âmbito, que não abrange somente a terra de cada país mas também o espaço aquático, quando tal se justifica. Assim se enquadram as expansões, conquistas e aculturações que se verificaram ao longo da História da Humanidade, sendo que vários povos consideraram as fronteiras que possuíam ou lhes eram impostas demasiado limitativas, além de muitas vezes se verem obrigados a aumentar o seu território devido ao aumento demográfico.
O tempo histórico (também chamado a "ciência dos homens no tempo") compreende uma série de níveis e noções que contribuem para a sua formação. São eles a estrutura (que é permanente e inalterável, situando-se no tempo longo e aplicando-se a âmbitos como o cultural, geográfico, social, económico, político, ecológico e psicológico, entre outros), a conjuntura (por natureza cíclica, que se integra no tempo de média duração entre a estrutura e o evento, e consta de oscilações de maior ou menor dimensão em áreas como a cultural, a económica, a social e a política) e o evento (nível que se localiza no tempo curto e corresponde a uma ocorrência singular, excepcional e passageira que parece independente de outras ocorrências e indica mudança). Fernand Braudel historiador francês que viveu entre os anos de 1902 e 1985, desenvolveu uma série de noções temporais que se tornaram basilares no estudo da História, como foi o caso do chamado tempo curto - que compreende os acontecimentos de breve duração como as ocorrências casuais, a história de eventos, da vida quotidiana e individual - do tempo cíclico, de rápida cadência e localização intermédia entre o tempo curto e o longo, que abrange as correntes e retrocessos no âmbito material e os ciclos económicos (entre outros) na história conjuntural - e do tempo longo ou longa duração. Este último conceito abarca a história estrutural, que contém componentes caracterizadas pela sua estabilidade e longevidade e que por estas mesmas razões não são de percepção directa e imediata, ou seja, podem passar desapercebidos na fase de percepção, necessitando da ajuda de fontes de cariz diverso. O tempo, por natureza contínuo, compreende uma série infinita de mudanças, que funcionam como renovação e quebra desta mesma continuidade. A interacção entre estes dois factores forma a estrutura daquilo a que se chama tempo histórico.
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